A escolha entre Tirzepatida (Mounjaro®) e Semaglutida (Wegovy® / Ozempic®) representa o atual auge da farmacologia para o tratamento da obesidade, mas possuem mecanismos distintos. A Semaglutida é um monoagonista que imita apenas um hormônio intestinal, o GLP-1, atuando na saciedade e no controle da insulina. Já a Tirzepatida é uma inovação de classe, sendo o primeiro coagonista duplo: ela imita tanto o GLP-1 quanto um segundo hormônio, o GIP (Polipeptídeo Insulinotrópico Dependente de Glicose). Essa “dupla ação” cria uma sinergia potente, atacando a obesidade por múltiplas vias metabólicas e neurológicas simultaneamente.
Em termos estritos de perda de peso absoluta, os estudos clínicos colocam a Tirzepatida (Mounjaro) como superior. Enquanto os ensaios com a Semaglutida (Wegovy) demonstraram uma redução de peso média impressionante de cerca de 15% a 17% em 68 semanas, os estudos da família SURMOUNT com a Tirzepatida mostraram reduções que ultrapassaram a barreira dos 20% a 22%, com alguns pacientes atingindo resultados comparáveis aos da cirurgia bariátrica. Essa eficácia superior deve-se à adição do receptor GIP, que potencializa a queima de gordura e melhora a sensibilidade à insulina de uma forma que o GLP-1 sozinho não consegue.
No entanto, a “melhor” medicação nem sempre é apenas a mais potente, mas a que melhor se adapta ao perfil do paciente. Ambas as drogas atuam poderosamente no Sistema Nervoso Central, especificamente no hipotálamo, desligando a fome e o desejo por comida (craving). O perfil de efeitos colaterais é semelhante — náuseas, vômitos e constipação — mas a intensidade pode variar. Para pacientes que já atingiram um platô com o Ozempic ou que possuem uma obesidade mórbida mais severa, a mudança para a Tirzepatida oferece um “degrau” a mais de potência terapêutica.
É fundamental ressaltar que nenhuma dessas medicações é mágica ou isenta de riscos, como a perda de massa muscular magra se não houver acompanhamento nutricional e físico adequado. A decisão clínica deve considerar não apenas a meta de peso, mas o custo (a Tirzepatida tende a ser mais cara atualmente), a tolerabilidade gástrica e a disponibilidade. Embora a Tirzepatida vença nos números da balança, a Semaglutida continua sendo uma ferramenta padrão-ouro, extremamente eficaz e segura, com mais tempo de mercado e estudos de longo prazo concluídos.